Diário do meu Alentejo
Hoje percebi que as minhas janelas se fecharam com a força de um tornado.
Aquele bater seco da madeira, e o som dos vidros a saltar das velhas janelas, permaneceu na minha memória, apesar da embriaguez da canícula que esmorecia todo o meu Ser.
Debaixo da mesa olhava para o que aconteceu procurando uma explicação...
Estava na minha casa isolada, bem perto da fronteira com Espanha - por ali não passa viv'alma!! - a ouvir uma das minhas músicas preferida e a ler, pela enesésima vez, a "Eternidade", de Ferreira de Castro.
Ainda "arrelampado" por aquele acontecimento, olhei para a janela aberta e sem vidros.
O sol, na sua vaidade enganadora, banhou-me a face, cobrindo o manto de devastação do velho monte alentejano com o dourado, também enganador, do seu sorriso.
Fui à porta e banhei-me nos rasgos solares que perfuravam as nuvens negras.
Aquele céu alentejano, de dia ou de noite, é incomparável.
As janelas abriram-se e os vidros estilhaçaram, mas eu ganhei mais uma batalha e permaneci solitário na minha casa no Alentejo, até agora.
Quero ser sepultado debaixo desta terra quente que tanto amolece os corações e as almas.