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Letras & Notas

Com os pés enterrados na areia da praia e os olhos no horizonte

Letras & Notas

Com os pés enterrados na areia da praia e os olhos no horizonte

Diário do meu Alentejo

14.08.24 | Bento Soares Dias

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Hoje percebi que as minhas janelas se fecharam com a força de um tornado.

Aquele bater seco da madeira, e o som dos vidros a saltar das velhas janelas, permaneceu na minha memória, apesar da embriaguez da canícula que esmorecia todo o meu Ser. 

Debaixo da mesa olhava para o que aconteceu procurando uma explicação...

Estava na minha casa isolada, bem perto da fronteira com Espanha - por ali não passa viv'alma!! - a ouvir uma das minhas músicas preferida e a ler, pela enesésima vez, a "Eternidade", de Ferreira de Castro.

Ainda "arrelampado" por aquele acontecimento, olhei para a janela aberta e sem vidros.

O sol, na sua vaidade enganadora, banhou-me a face, cobrindo o manto de devastação do velho monte alentejano com o dourado, também enganador, do seu sorriso.

Fui à porta e banhei-me nos rasgos solares que perfuravam as nuvens negras.

Aquele céu alentejano, de dia ou de noite, é incomparável.

As janelas abriram-se e os vidros estilhaçaram, mas eu ganhei mais uma batalha e permaneci solitário na minha casa no Alentejo, até agora. 

Quero ser sepultado debaixo desta terra quente que tanto amolece os corações e as almas.