O cemitério
No cemitério da minha santa terrinha, por motivos de falta de planeamento, já não cabe um único morto.
Vai na volta e o executivo municipal começa a colocar papelinhos e editais a avisar que caso “os concessionários não sejam conhecidos ou residam em parte incerta e não exerçam os seus direitos por um período de dez anos, nem se apresentem a reivindica-los dentro do prazo de sessenta dias úteis, depois de citados por meio de editos publicados em dois jornais mais lidos no Município e afixados nos lugares de estilo”.
E pronto.
Acontece que muitas campas não estão abandonadas, e outras são autênticas peças de arte cemiterial. Também acontece que muitos familiares que vivam longe, no estrangeiro ou que tenham falecido fora desta santa terrinha, não sabem porque não conhecem os jornais do município, ou nem conseguem aceder aos editais. Muito menos poderão saber o que são “lugares de estilo”. Eu por acaso sei!!
Não sabendo não reagem, não cumprem.
É então que acontece o impensável. Lá vão as ossadas, nem digo para onde e, de uma morte para a outra, o covato é ocupado por outro morto.
É no que dão os erros urbanísticos, posto que no alinhamento sul do velho cemitério resolveram autorizar um edifício de habitação coletiva com um número enorme de frações impedindo, dessa forma, a expansão da necrópole para sul, já que para Norte não é possível, há muitos séculos. Para nascente existe uma estrada e para poente uma arriba.
Não havendo hipótese, substituam-se os mortos, chorem os familiares no dia em forem visitar os seus entes querido e já não lá estiverem as fotografias, os nomes...enfim a memória física do morto.
Mas, digo eu, o problema maior do cemitério e dos mortos que ainda lá estão é a vista que este tem sobre o mar.
E mais não digo...